terça-feira, 1 de setembro de 2015

Por Alfredo Brites



Pais podem transmitir traumas aos filhos pelos genes, creem cientistas.


Uma equipe de pesquisadores do Hospital Monte Sinai, em Nova York, comparou a composição genética de um grupo de 32 homens e mulheres judeus com a composição genética de seus filhos. O grupo de estudo tinha vivido em um campo de concentração e sofrido com o regime nazista.
Essa informação foi comparada com a de outras famílias judias que não tinham vivido na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
Os filhos das famílias que foram vítimas diretas são mais propensos a sofrer problemas ligados ao estresse.
E "as mudanças genéticas nessas crianças só podem ser atribuídas ao fato de que seus pais foram expostos ao Holocausto", disse Rachel Yehuda, professora de psiquiatria e neurociência e líder do projeto de pesquisa.
O estudo, segundo os autores, apresenta um exemplo claro em humanos de como a herança epigenética pode afetar os filhos e até os netos.
"É a primeira prova em humanos - de que temos conhecimento - de uma marca epigenética na descendência baseada na exposição dos pais, antes da concepção", afirmou Yehuda.

Teoria polêmica

A teoria da herança epigenética é polêmica. O que é cientificamente aceito hoje é que a única forma de transmitir informação biológica entre as gerações é através do DNA.
Mas, segundo essa teoria, o estilo de vida e as influências do meio ambiente - por exemplo, fumo, estresse ou a dieta - podem provocar mudanças genéticas em nossa descendência e ter um papel importante em seu desenvolvimento.
Os genes mudam pela influência do ambiente mediante uma "etiqueta química" (o epigenoma) que adere ao DNA e funciona como um interruptor: modifica a expressão dos genes, ativando-os ou silenciando-os.
Segundo estudos recentes, essas "etiquetas" poderiam ser transmitidas de alguma forma entre as gerações.
E essas "etiquetas epigenéticas" foram encontradas pelos pesquisadores de Nova York na mesma proporção que um gene associado à regulação do hormônio do estresse, tanto nos sobreviventes do Holocausto como em seus filhos.
Image copyright AP Image caption Os voluntários estudados tinham vivido em um campo de concentração, sofrido torturas ou foram obrigados a fugir do regime nazista
Depois de fazer uma série de análises clínicas, a equipe descartou que essas mudanças tenham sido causadas por experiências traumáticas vividas pelos filhos e, com isso, concluiu que foram herdadas dos pais.
Mas, analisando o caso dos filhos dos sobreviventes do Holocausto, seria possível explicar sua predisposição a problemas vinculados ao estresse pelo fato de eles terem escutado histórias terríveis sobre essa experiência nos relatos de seus pais?
Para Yehuda isso é muito pouco provável, já que essa teoria não explicaria as diferenças que se manifestaram nos casos nos quais o sobrevivente foi a mãe ou ou pai.
Segundo o estudo, os filhos de pais que sofrem com o transtorno de estresse pós-traumático são "provavelmente mais propensos à depressão", enquanto que o efeito contrário parece acontecer nos filhos de mães que sofrem do mesmo problema.


A química por trás do iogurte.



O iogurte é um desses alimentos que nunca saem de moda. Muito já foi dito sobre os supostos benefícios de consumir os microrganismos vivos que se abrigam no produto. E trata-se de uma indústria que movimenta bilhões de dólares.
Também é muito fácil fazer iogurte em casa, e o YouTube está cheio de vídeos de pessoas compartilhando a experiência.
Outros gostam de examinar o produto com microscópio e questionar: "O que tem aqui dentro?"
Bem, uma boa resposta seria: "Várias reações químicas fascinantes".

Forçar o estrago

Para o leite virar iogurte, uma série de processos químicos são estimulados .
A fabricação do iogurte é controlada pelo processo de coalhadura. Basicamente, trata-se de fazer o leite estragar de uma maneira bastante específica.
Para dar as bases para a textura final, fabricantes comerciais agitam o leite em um equipamento que se assemelha a uma máquina de lavar. Isso modifica sua estrutura microscópica, quebrando os grandes glóbulos de gordura em inúmeras partículas menores.
A partir daí, as proteínas do leite formam uma membrana em torno de cada partícula. Isso garante uma melhor distribuição da gordura através do iogurte conforme o leite coalha.
Neste momento, a temperatura é aumentada. O calor ajuda a eliminar qualquer bactéria indesejada presente no leite e inicia o trabalho de quebrar as proteínas para que elas formem a retícula molecular que faz parte do coração do iogurte.
A temperatura ideal da fervura depende do sabor desejado. Nas fábricas comerciais, o leite é fervido por 30 minutos a 85ºC, e depois por cinco minutos entre 90ºC e 95ºC. As iogurteiras caseiras em geral chegam a 76ºC, o que deixa o produto mais ralo e mais ácido, mas também mais frutado.

Ambiente ideal para bactérias

A fabricação industrial do produto envolve tecnologia e know-how de engenheiros
Uma vez que o leite é resfriado a 37ºC, ele está pronto para o processo que, para muitos, define um iogurte: a fermentação.
Isso porque essa temperatura é ideal para a proliferação das duas mais importantes bactérias presentes no produto: Lactobacillusdelbrueckii e Streptococcus thermophilus. Conforme elas aumentam, elas transformam a lactose em ácido láctico, diminuindo o pH do leite.
As proteínas presentes começam a notar a diferença e seus grumos começam a se soltar. Quanto mais ácido o ambiente, mais elas se liberam e se unem a outras proteínas, formando uma espécie de rede, que por sua vez retém água e glóbulos de gordura. O leite virou iogurte.
Quando o processo de fermentação é interrompido pelo resfriamento do iogurte, o resultado é um gel. No produto coado, como a versão grega, há um passo a mais que envolve quebrar o gel e separar a água, o açúcar e as proteínas, que estão na forma de soro. Isso cria uma textura mais cremosa.

Engenharia e tecnologia

Para preparar os produtos que encontramos nas prateleiras dos supermercados, os fabricantes empregam engenheiros de alimentos que estudam a fundo todos os componentes do iogurte até chegarem à textura e ao sabor ideais.
A quantidade de aparelhos que esses profissionais usam em seu trabalho chega a parecer exagerada, mas é fácil entender por que eles estão ali.
O consistômetro, por exemplo, é um reservatório no topo de uma rampa que permite fazer "corridas de iogurte" – ou seja, cronometrar quanto leva para cada variedade escorrer por uma certa distância.
Há também o viscômetro e o penetrômetro, que medem a viscosidade e a densidade do iogurte.
Os fabricantes comerciais também usam microscópios para avaliar a estrutura da base geleificada do iogurte. Usando marcadores fluorescentes, os engenheiros podem enxergar os amontoados de proteínas, as bactérias, os glóbulos de gordura e todas as pecinhas que se unem na delicada dança química que faz do iogurte o que ele é.

Jovens góticos têm risco maior de depressão, diz estudo.


Jovens que seguem o estilo gótico correm maior risco de sofrer de problemas como depressão e autoflagelação, de acordo com um estudo britânico.
Os cientistas sugerem que uma inclinação a se afastar da sociedade possa estar por trás deste vínculo, embora não tenham conseguido esclarecer ao certo os motivos.
No entanto, eles destacam que a maioria dos adolescentes góticos não apresentava qualquer problema e que apenas uma minoria pode vir a precisar de apoio.
A pesquisa, publicada na revista especializada Lancet Psychiatry, acompanhou 3.694 jovens de 15 anos, todos moradores da cidade de Bristol, no sudoeste da Grã-Bretanha, entre 2007 e 2010.
O movimento gótico – caracterizado por roupas pretas, maquiagem escura pesada e música quase sempre sombria, com letras melancólicas – atrai adolescentes há décadas.
Os pesquisadores descobriram que, quanto mais identificados com os góticos, maior a probabilidade de episódios de autoflagelação e depressão.
No estudo, aqueles jovens que se descreveram como góticos tinham mais probabilidade de já haver apresentado sinais de depressão antes dos 15 anos e de ter sofrido bullying na escola.

'Estigmatizados'

No entanto, os cientistas dizem que o vínculo permanece mesmo entre crianças que não apresentaram estes fatores.
Image copyright Getty Image caption O movimento gótico é tradicionalmente ligado a roupas escuras e música sombria
Para a coordenadora do estudo, Rebecca Pearson, da Universidade de Bristol, os motivos para a tendência podem ser vários, entre eles, a possibilidade de adolescentes mais suscetíveis à depressão se sentirem mais atraídos ao estilo de vida gótico.
"O ponto ao qual um jovem se identifica com a subcultura gótica pode representar o ponto ao qual jovens de grupos de risco se sentem isolados, excluídos ou estigmatizados pela sociedade", disse Pearson à BBC.

Vida alternativa: a história de Nattalie

Nattalie Richardson, de 29 anos, nasceu em Norfolk, no leste britânico. Ela diz que começou a sofrer de depressão antes de virar gótica.
"Pessoalmente, acho que crianças deprimidas ou com doenças mentais são atraídas ao estilo de vida 'alt'. É uma forma de serem tão diferentes na aparência quanto se sentem por dentro", diz.
"Sei que para mim, foi este o motivo para começar a usar roupas diferentes e de ter me tornado alternativa. Isso e a imagem se encaixavam com a música que eu ouvia e que parecia expressar a confusão em que a minha cabeça vivia. Isso me ajudou a me dar conta de que não era a única adolescente que se sentia deste jeito.
"Eu estava deprimida e doente antes de me tornar gótica."
'Proteção de grupo'
O blogueiro e autodenominado gótico Tim Sinister disse à BBC não acreditar que adolescentes góticos corram mais risco de depressão, apenas que estão mais dispostos a falar sobre o assunto.
"A cena gótica é mais tolerante e aberta no que diz respeito a discutir a depressão, enquanto a sociedade como um todo tem mais estigma em torno da discussão de doenças mentais", disse Sinister.
Image copyright Getty Images Image caption Especialista diz que pais não devem tentar evitar que os filhos virem góticos, apenas estar atentos a problemas
Especialistas dizem que pais não deveriam tentar evitar que os filhos façam parte de um grupo gótico, já que ter amigos e se identificar com uma comunidade pode protegê-los da depressão.
Em vez disso, sugerem que os pais observem os filhos e conversem com eles sobre qualquer preocupação.
Para o professor Kevin McConway, as questões abordadas pela pesquisa são "complicadas" e variam com o tempo.
Para ele, seria errado partir do pressuposto de que ser gótico aumenta as chances de depressão, já que é preciso tempo para destrinchar relações de causa e efeito.
"Mesmo sem podermos ter certeza das causas, saber que existe um vínculo entre a identificação como gótico e depressão e autoflagelação já pode ajudar médicos a identificar e dar apoio a grupos de risco."

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