O surpreendente lado bom de envelhecer.
De um dilúvio de doenças à pele
flácida e à perda gradual dos sentidos, a velhice é assombrada pela perspectiva
de menos oportunidades e mais intervenções médicas. Mas será que há um lado bom
em se juntar ao grupo dos grisalhos com mais de 60 anos?
Hoje as pesquisas científicas mais
recentes sugerem que ficar mais velho não é um processo simples de decadência,
e que o auge da vida pode acontecer mais tarde do que imaginamos. Vejamos aqui
alguns benefícios do envelhecimento.
Mais inteligentes
Não faltam gírias para descrever os
efeitos destrutivos do envelhecimento no cérebro. Mas em várias habilidades
vitais, as mentes mais velhas acabam sendo mais inteligentes.
Segundo o linguista Michael Ramscar,
da Universidade de Tubingen, na Alemanha, a ciência compreende mal a maneira
como o cérebro envelhece. “O número de neurônios no cérebro humano atinge seu
auge cerca de 28 semanas depois do nascimento, mas metade desses neurônios
morre até o fim da adolescência. Como normalmente não observamos esse período
como sendo de declínio, medir a capacidade do cérebro em termos de número de
neurônios não é um bom indicador”.
Uma das pesquisas mais abrangentes já
realizadas, chamada Estudo Longitudinal de Seattle, acompanhou as habilidades
mentais de 6 mil pessoas desde 1956, avaliando-as a cada sete anos.
Enquanto os mais velhos não se
mostraram tão bons em matemática e demoravam mais tempo para responder a
comandos, eles eram melhores em aspectos como vocabulário, orientação espacial,
memória verbal e capacidade de resolver problemas entre os 40 e 50 anos do que
quando estavam na faixa dos 20.
Gary Small, que estuda psiquiatria
geriátrica no Instituto de Pesquisas Cerebrais da Universidade da Califórnia,
acredita que isso se deve ao conhecimento adquirido nesses anos a mais. “As
pessoas desenvolvem uma perspectiva maior do que é importante, e a capacidade
de resolver problemas é refinada depois de anos de prática. E há o acúmulo de
certos tipos de conhecimentos – o que chamamos de inteligência cristalizada”.
É um padrão sustentado pela biologia.
Os sinais nervosos são isolados pela mielina, um material gorduroso que envolve
as terminações dos neurônios. A substância aumenta a velocidade com que os
sinais elétricos são transmitidos, e até agora acreditava-se que era algo que
se deteriorava com a idade. Não é bem assim.
“Conforme envelhecemos, o isolamento
dessas terminações aumenta, na realidade. Os axônios disparam mais rapidamente
em pessoas de meia-idade do que em jovens. Há um pico de desempenho dessas
células cerebrais nessa época”, afirma Small.
Menos resfriados
Não é só o cérebro que se torna mais
sábio com a idade. O sistema imunológico humano encontra milhões de perigos em
potencial todos os dias, e precisa aprender a identificá-los.
Para isso, produzimos os glóbulos
brancos do sangue, que adotam a aparência molecular de milhões de invasores
diferentes. Quando reconhecem um inimigo, elas permanecem nas redondezas,
formando uma “memória imunológica”. Assim, da próxima vez que o vilão aparecer,
o corpo poderá reagir mais rapidamente.
Segundo John Upham, pneumologista da
Universidade de Queensland, na Austrália, essa memória pode durar por muito
tempo. “As pessoas que sofreram várias epidemias têm um sistema imunológico que
pode se lembrar de um vírus por 40 ou 50 anos”, explica. “É verdade que essa
capacidade decai a partir dos 70 ou 80 anos, mas há uma fase, entre os 40 e 70,
em que o sistema imunológico se lembra dos vírus que apareceram ao longo dos
anos.”
Essa proteção cumulativa significa
menos resfriados: enquanto jovens na casa dos 20 anos apanham um resfriado duas
ou três vezes por ano, os maiores de 50 adoecem apenas uma ou duas vezes ao
ano.
Mas outras defesas tendem a se
enfraquecer com a idade. O corpo produz cada vez menos novos glóbulos brancos,
e elas se tornam mais lentas.
Sistemas imunológicos mais velhos
também produzem menos anticorpos – proteínas que se grudam a patógenos para
ajudar a identificá-los e eliminá-los.
Mas será que isso não é algo que pode
salvar vidas?
Sobrevivendo a surtos
A epidemia da Gripe Espanhola, de
1918, foi a mais letal na história da Humanidade, tendo matado 50 milhões de
pessoas. Mas ela vitimou mais as pessoas entre 20 e 40 anos, tidas como as mais
fortes e saudáveis.
A gripe suína de 2009 seguiu o mesmo
misterioso padrão, com a maioria das fatalidades entre aqueles com menos de 65
anos.
Acredita-se que os vírus fizessem o
sistema imunológico de suas vítimas reagir exageradamente. Aqueles com um
sistema mais vigoroso lançaram as reações mais dramáticas e prejudiciais, o que
é conhecido como “tempestade de citocinas”.
Uma resposta imunológica saudável
depende de um feedback positivo – quando um patógeno é encontrado, os tecidos
do entorno liberam mensagens químicas, chamadas citocinas, pedindo ajuda.
Ao chegarem ao local, as células são
incentivadas a liberar substâncias também, o que faz com que novas células
sejam “chamadas”. Às vezes, essa volta foge do controle, matando células
saudáveis e levando a uma inflamação potencialmente fatal.
Ainda não se sabe o que detona as tempestades,
mas as pesquisas levaram a um novo tratamento para a gripe que age na
tempestade, e não no vírus.
Alergias em declínio
Boas notícias para quem sofre de
alergias: enquanto as verdadeiras causas do problema ainda estão sendo
discutidas por cientistas, sabemos que todas as alergias são mediadas por
anticorpos. O principal culpado é a imunoglobulina E. Como outros anticorpos,
sua produção diminui com a idade.
Mitchell Grayson, do Hospital Infantil
de Wisconsin, afirma que quanto mais velho ficamos, menos severos serão os
sintomas. “A doença alérgica atinge seu pico na infância e tende a diminuir na
adolescência ou após os 20 anos. Aos 30, pode haver uma recaída, mas aos 50 ou
60, os sintomas tendem a ser menos frequentes”.
Sexo mais prazeroso
Muitos estudos também mostraram que as
pessoas mais velhas têm mais relações sexuais do que pensamos – e elas costumam
ser mais satisfatórias também.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina
de San Diego sobre a atividade sexual e a satisfação de mulheres com mais de 80
anos descobriu que metade delas ainda tinha orgasmos “todas as vezes” ou “na
maioria das vezes” durante o sexo.
Outros estudos chegaram a conclusões
tão surpreendentes quanto essa – uma pesquisa com pessoas acima dos 60 revelou
que 74% dos homens e 70% das mulheres reportavam uma satisfação sexual maior do
que quando tinham seus 40 anos.
Tara Saglio, psicanalista terapeuta de
casais em Londres, acredita que isso se deve ao fato de as mulheres mais velhas
terem menos inseguranças. “As mulheres mais velhas têm mais confiança em
expressar sua sexualidade. É isso o que torna o sexo melhor”, explica.
Menos enxaquecas
A enxaqueca também se torna um
problema menos frequente conforme envelhecemos. Um estudo da Universidade de
Gotemburgo, na Suécia, com pacientes com mais de 18 anos, descobriu que as
crises ficam mais curtas, menos intensas e menos recorrente com a idade.
Menos suor
As glândulas sudoríparas encolhem e se
tornam menos numerosas conforme ficamos mais velhos. Uma pesquisa da
Universidade Estadual da Pensilvânia mostra que pessoas na faixa dos 20 anos
pode transpirar mais do que quem tem mais de 50 ou 60 anos.
Enganando a morte
Ainda não se convenceu? Até mesmo na
idade avançada, a morte pode não estar tão perto quanto se espera. As pessoas
mais velhas estão mais saudáveis do que nunca e ainda têm boas chances de
continuar assoprando velinhas, segundo um estudo realizado na Dinamarca.
No período entre 2011 e 2014, a
expectativa de vida para um jovem de 25 anos foi de 84 anos para mulheres e 80
para homens, enquanto uma pessoa de 95 anos poderia esperar chegar a seu 98º
(mulheres) ou 97º aniversários (homens).
Mesmo com 80 anos, as mulheres têm 95%
de chance de viver um ano a mais.
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