quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Por Alfredo Brites



     O surpreendente lado bom de envelhecer.

Bem-vindo à era do envelhecimento. Habitado por mais de 800 milhões de pessoas com mais de 60 anos e por mais centenários do que a população total da Irlanda (cerca de 329 mil), o mundo está tendo que se preparar para as consequências econômicas e sociais dessa situação.
De um dilúvio de doenças à pele flácida e à perda gradual dos sentidos, a velhice é assombrada pela perspectiva de menos oportunidades e mais intervenções médicas. Mas será que há um lado bom em se juntar ao grupo dos grisalhos com mais de 60 anos?
Hoje as pesquisas científicas mais recentes sugerem que ficar mais velho não é um processo simples de decadência, e que o auge da vida pode acontecer mais tarde do que imaginamos. Vejamos aqui alguns benefícios do envelhecimento.

Mais inteligentes

Não faltam gírias para descrever os efeitos destrutivos do envelhecimento no cérebro. Mas em várias habilidades vitais, as mentes mais velhas acabam sendo mais inteligentes.
Segundo o linguista Michael Ramscar, da Universidade de Tubingen, na Alemanha, a ciência compreende mal a maneira como o cérebro envelhece. “O número de neurônios no cérebro humano atinge seu auge cerca de 28 semanas depois do nascimento, mas metade desses neurônios morre até o fim da adolescência. Como normalmente não observamos esse período como sendo de declínio, medir a capacidade do cérebro em termos de número de neurônios não é um bom indicador”.
Uma das pesquisas mais abrangentes já realizadas, chamada Estudo Longitudinal de Seattle, acompanhou as habilidades mentais de 6 mil pessoas desde 1956, avaliando-as a cada sete anos.
Enquanto os mais velhos não se mostraram tão bons em matemática e demoravam mais tempo para responder a comandos, eles eram melhores em aspectos como vocabulário, orientação espacial, memória verbal e capacidade de resolver problemas entre os 40 e 50 anos do que quando estavam na faixa dos 20.
Gary Small, que estuda psiquiatria geriátrica no Instituto de Pesquisas Cerebrais da Universidade da Califórnia, acredita que isso se deve ao conhecimento adquirido nesses anos a mais. “As pessoas desenvolvem uma perspectiva maior do que é importante, e a capacidade de resolver problemas é refinada depois de anos de prática. E há o acúmulo de certos tipos de conhecimentos – o que chamamos de inteligência cristalizada”.
É um padrão sustentado pela biologia. Os sinais nervosos são isolados pela mielina, um material gorduroso que envolve as terminações dos neurônios. A substância aumenta a velocidade com que os sinais elétricos são transmitidos, e até agora acreditava-se que era algo que se deteriorava com a idade. Não é bem assim.
“Conforme envelhecemos, o isolamento dessas terminações aumenta, na realidade. Os axônios disparam mais rapidamente em pessoas de meia-idade do que em jovens. Há um pico de desempenho dessas células cerebrais nessa época”, afirma Small.

Menos resfriados

Não é só o cérebro que se torna mais sábio com a idade. O sistema imunológico humano encontra milhões de perigos em potencial todos os dias, e precisa aprender a identificá-los.
Para isso, produzimos os glóbulos brancos do sangue, que adotam a aparência molecular de milhões de invasores diferentes. Quando reconhecem um inimigo, elas permanecem nas redondezas, formando uma “memória imunológica”. Assim, da próxima vez que o vilão aparecer, o corpo poderá reagir mais rapidamente.
Segundo John Upham, pneumologista da Universidade de Queensland, na Austrália, essa memória pode durar por muito tempo. “As pessoas que sofreram várias epidemias têm um sistema imunológico que pode se lembrar de um vírus por 40 ou 50 anos”, explica. “É verdade que essa capacidade decai a partir dos 70 ou 80 anos, mas há uma fase, entre os 40 e 70, em que o sistema imunológico se lembra dos vírus que apareceram ao longo dos anos.”
Essa proteção cumulativa significa menos resfriados: enquanto jovens na casa dos 20 anos apanham um resfriado duas ou três vezes por ano, os maiores de 50 adoecem apenas uma ou duas vezes ao ano.
Mas outras defesas tendem a se enfraquecer com a idade. O corpo produz cada vez menos novos glóbulos brancos, e elas se tornam mais lentas.
Sistemas imunológicos mais velhos também produzem menos anticorpos – proteínas que se grudam a patógenos para ajudar a identificá-los e eliminá-los.
Mas será que isso não é algo que pode salvar vidas?

Sobrevivendo a surtos

A epidemia da Gripe Espanhola, de 1918, foi a mais letal na história da Humanidade, tendo matado 50 milhões de pessoas. Mas ela vitimou mais as pessoas entre 20 e 40 anos, tidas como as mais fortes e saudáveis.
A gripe suína de 2009 seguiu o mesmo misterioso padrão, com a maioria das fatalidades entre aqueles com menos de 65 anos.
Acredita-se que os vírus fizessem o sistema imunológico de suas vítimas reagir exageradamente. Aqueles com um sistema mais vigoroso lançaram as reações mais dramáticas e prejudiciais, o que é conhecido como “tempestade de citocinas”.
Uma resposta imunológica saudável depende de um feedback positivo – quando um patógeno é encontrado, os tecidos do entorno liberam mensagens químicas, chamadas citocinas, pedindo ajuda.
Ao chegarem ao local, as células são incentivadas a liberar substâncias também, o que faz com que novas células sejam “chamadas”. Às vezes, essa volta foge do controle, matando células saudáveis e levando a uma inflamação potencialmente fatal.
Ainda não se sabe o que detona as tempestades, mas as pesquisas levaram a um novo tratamento para a gripe que age na tempestade, e não no vírus.

Alergias em declínio

Boas notícias para quem sofre de alergias: enquanto as verdadeiras causas do problema ainda estão sendo discutidas por cientistas, sabemos que todas as alergias são mediadas por anticorpos. O principal culpado é a imunoglobulina E. Como outros anticorpos, sua produção diminui com a idade.
Mitchell Grayson, do Hospital Infantil de Wisconsin, afirma que quanto mais velho ficamos, menos severos serão os sintomas. “A doença alérgica atinge seu pico na infância e tende a diminuir na adolescência ou após os 20 anos. Aos 30, pode haver uma recaída, mas aos 50 ou 60, os sintomas tendem a ser menos frequentes”.

Sexo mais prazeroso

Muitos estudos também mostraram que as pessoas mais velhas têm mais relações sexuais do que pensamos – e elas costumam ser mais satisfatórias também.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina de San Diego sobre a atividade sexual e a satisfação de mulheres com mais de 80 anos descobriu que metade delas ainda tinha orgasmos “todas as vezes” ou “na maioria das vezes” durante o sexo.
Outros estudos chegaram a conclusões tão surpreendentes quanto essa – uma pesquisa com pessoas acima dos 60 revelou que 74% dos homens e 70% das mulheres reportavam uma satisfação sexual maior do que quando tinham seus 40 anos.
Tara Saglio, psicanalista terapeuta de casais em Londres, acredita que isso se deve ao fato de as mulheres mais velhas terem menos inseguranças. “As mulheres mais velhas têm mais confiança em expressar sua sexualidade. É isso o que torna o sexo melhor”, explica.

Menos enxaquecas

A enxaqueca também se torna um problema menos frequente conforme envelhecemos. Um estudo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, com pacientes com mais de 18 anos, descobriu que as crises ficam mais curtas, menos intensas e menos recorrente com a idade.

Menos suor

As glândulas sudoríparas encolhem e se tornam menos numerosas conforme ficamos mais velhos. Uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia mostra que pessoas na faixa dos 20 anos pode transpirar mais do que quem tem mais de 50 ou 60 anos.

Enganando a morte

Ainda não se convenceu? Até mesmo na idade avançada, a morte pode não estar tão perto quanto se espera. As pessoas mais velhas estão mais saudáveis do que nunca e ainda têm boas chances de continuar assoprando velinhas, segundo um estudo realizado na Dinamarca.
No período entre 2011 e 2014, a expectativa de vida para um jovem de 25 anos foi de 84 anos para mulheres e 80 para homens, enquanto uma pessoa de 95 anos poderia esperar chegar a seu 98º (mulheres) ou 97º aniversários (homens).
Mesmo com 80 anos, as mulheres têm 95% de chance de viver um ano a mais.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário