sábado, 12 de dezembro de 2015

Por Alfredo Brites



Ghosting : a maneira cruel de acabar com relacionamentos na era digital.

 

A situação pode ser familiar para muitos: você conhece alguém, troca números de telefone, vai a vários encontros, começa um relacionamento e tudo parece ir muito bem quando, de repente... silêncio.
A outra pessoa deixa de responder mensagens de texto e chamadas e, sem aviso, desaparece sem dar explicações.
Em inglês isto é chamado de ghosting, palavra derivada de ghost (fantasma). O termo vem ganhando popularidade nos últimos anos e foi eleito como uma das palavras de 2015 pelo dicionário britânico Collins.
Encerrar um relacionamento da noite para o dia, cortando todo tipo de comunicação, não é novo. Mas alguns especialistas afirmam que as novas tecnologias tornaram esta prática mais comum.
Em uma época em que muitas relações começam por meio de sites ou aplicativos dos celulares, o ghosting é algo cada vez mais comum.

Consequências

Especialistas em psicologia afirmam que o ghosting tem consequências para quem sofre e também para quem pratica.
A pessoa que sofreu o ghosting tem sua autoestima prejudicada e precisa atravessar o período difícil do fim de um relacionamento sem ter todas as respostas sobre o que levou ao rompimento.
A que praticou o ghosting, se for o caso de um relacionamento consolidado, terá que lidar com o remorso e sentimento de culpa por ter abandonado alguém desta maneira.
Os especialistas dizem que, em alguns casos, os que praticam o ghosting têm medo de conflito, evitando de todas as formas o enfrentamento e o fato de ter que falar pessoalmente que quer encerrar o relacionamento.
Em uma pesquisa de 2014, realizada nos Estados Unidos pelo instituto YouGov para o Huffington Post, 11% dos participantes disseram ter praticado ghosting e cerca de 13% dizem ter sofrido com esta prática.
A revista Elle fez uma pesquisa parecida entre seus leitores: cerca de 26% das mulheres e 33% dos homens admitiram que já tinham sido vítimas e também já tinham feito ghosting.
Sherry Turkler, professora de sociologia do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), disse em uma entrevista recente ao Huffington Post que o "ghosting é algo quase único do mundo online".
"Com as novas tecnologias nos acostumamos a nos livrar das pessoas simplesmente não respondendo. E isso começa com os adolescentes, que crescem com a ideia de que é possível que enviem uma mensagem a alguém e não recebam nada em resposta."
Turkle afirmou que "isto tem graves consequências, porque quando nos tratam como se pudéssemos ser ignorados, começamos a pensar que tudo bem, e nos tratamos como pessoas que não têm sentimentos".
"E, ao mesmo tempo, tratamos os outros como pessoas que não têm sentimentos neste contexto e a empatia começa a desaparecer."
A psicoterapeuta americana Elisabeth J. LaMotte acredita que para muitos o ato de dizer adeus ou acabar com o relacionamento é incômodo e "o evitamos em muitas esferas, particularmente no setor do amor".

Consciência do dano

LaMotte afirma que "quando se analisa a psicologia dos que praticam o ghosting, em alguns casos se vê que foram feridos por pessoas que consideram mais importantes que eles mesmos e que já sofreram rompimentos de relacionamentos que não processaram corretamente".
"Em algumas ocasiões não têm consciência do dano que causam", disse a especialista.
"Para a pessoa vítima de ghosting, pode ser uma experiência muito dolorosa. A rejeição causa dor. E o ghosting é uma rejeição vaga que faz que o processo de dor do rompimento seja mais longo."
LaMotte afirma que "no começo, as pessoas passam por um processo de negação e buscam desculpas para explicar a situação, como a outra pessoa ter perdido o telefone ou ter aparecido uma emergência".

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