Como as baratas podem ajudar a salvar vidas humanas.
Insetos que fogem assim que você entra
em uma sala e acende as luzes, as baratas geralmente são associadas a ambientes
sujos. Mas elas estão despertando o interesse de mais do que empresas de
dedetização: têm inspirado pesquisas em antibióticos, robôs e próteses para
membros perdidos.
Em Havana, a barata cubana, inseto
nativo de cor verde, é tida como um bicho de estimação e o inseto até aparece
em histórias folclóricas.
Entre as 4,5 mil espécies de baratas
conhecidas no mundo, apenas 4 são consideradas pragas.
A maioria delas não vive perto de
residências de humanos e tem um papel ecológico importante, comendo matéria
morta ou em deterioração.
Algumas espécies têm cores vivas e
desenhos. Algumas são criaturas sociais e tomam decisões coletivas. Outras
formam pares e criam os filhos juntas. Outras são sozinhas.
Elas podem emitir silvos, cantar e
fazer sons percussivos para atrair um parceiro e sobrevivem às condições mais difíceis
com pouca comida durante meses. Uma espécie, a Eublaberus posticus, pode sobreviver por um
ano consumindo apenas água.
A mais pesada delas, a barata
rinoceronte, vive no subterrâneo, chega a pesar 35 gramas, mede 8 centímetros e
vive na Austrália. Uma das menores é uma praga encontrada na Europa e na
América do Norte, a barata alemã, com apenas pouco mais de um centímetro.
Uma das curiosidades é que borra de
café é usada com frequência como isca em armadilhas para estes insetos.
Inspiração
Cientistas têm nas baratas uma fonte
de inspiração. Em 1999, essas criaturas inspiraram Robert Full, professor na
Universidade da Califórnia em Berkeley, a criar um robô de seis pernas que se
movia mais rápida e facilmente do que qualquer outro robô.
Em sua palestra de 2014 na conferência
TED, Full explicou como as patas elásticas, a forma corporal arredondada e os
exoesqueletos flexíveis - feitos a partir de tubos conectados e placas -
permitem que estes robôs se movimentem em terrenos mais complexos.
As patas das baratas também estão
dando ideias a cientistas dedicados a criar a próxima geração de próteses de
perna para humanos - a mecânica que dá elasticidade para as patas dos insetos é
a base para a capacidade de uma prótese de mão mecânica de conseguir agarrar.
O objetivo, segundo Robert D Howe, do
Laboratório de Biorrobótica de Harvard, é produzir uma mão que "deslize
pelos objetos até envolvê-los, como uma mão humana levantando uma xícara de
café".
E há também a barata robótica: uma
fusão de uma barata viva e um minicomputador, cirurgicamente preso às suas
costas. A partir de mensagens do minicomputador, a barata pode ser direcionada
para lugares aos quais os humanos dificilmente teriam acesso, como prédios que
desabaram ou canos de esgoto arrebentados. Ali as baratas podem coletar dados.
"Na primeira vez que vi essas
baratas fiquei de cabelo em pé", disse Hong Liang, pesquisadora-chefe do projeto
na Universidade A&M do Texas. "Mas acabei ficando com algumas delas em
meu escritório, como bichos de estimação, por um tempo. Na verdade elas são
criaturas belas. Elas se limpam constantemente."
Em junho, estudantes da Universidade
Jiao Tong, de Xangai, na China, demonstraram como conseguiam controlar baratas
com o pensamento. Traduzindo as ondas cerebrais em impulsos elétricos, eles
conseguiram direcionar uma barata, com um receptor preso a ela, por vários
túneis.
Na medicina
Na medicina também há pesquisas
relacionadas a baratas. Há tempos os cientistas se perguntam como as baratas
passam a vida em ambientes sujos e sem problemas de saúde.
As baratas produzem o próprio
antibiótico - e é um antibiótico poderoso.
Com isso, elas podem ser cruciais no
desenvolvimento de remédios para enfrentar bactérias como E. coli (que causa
intoxicação alimentar), MRSA (que causa infecções na pele) e outras que são
resistentes a muitos dos tratamentos atuais.
Curar com baratas não é algo novo. No
século 19, o jornalista e escritor Lafcadio Hearn reparou em alguns tratamentos
durante uma viagem pelo sul dos EUA.
"Eles dão chá de barata contra o
tétano. Não sei quantas baratas são usadas para fazer uma xícara, mas descobri
que a fé neste remédio é forte entre muitos membros da população americana de
Nova Orleans", escreveu ele.
Hoje, alguns hospitais da China usam
um creme feito com pó de baratas para tratar queimaduras e, em alguns casos, um
xarope de baratas é ministrado a pacientes para aliviar os sintomas de gastroenterite.
Quando Wang Fuming percebeu que a
demanda por insetos estava crescendo na Província de Shandong, no leste do
país, ele abriu uma fazenda de baratas. Mantém 22 milhões destes insetos em
abrigos subterrâneos e diz que, desde 2010, o preço das baratas secas aumentou
dez vezes.
Ao fritá-la duas vezes em óleo quente,
a barata ganharia uma casca crocante e um interior suculento, com a
consistência de queijo cottage. Uma pitada de pimenta dá um sabor ainda mais
marcante, dizem os apreciadores.
Com o crescimento da população humana
e da demanda por proteína, talvez a barata seja o futuro da alimentação
mundial. Se as pessoas forem mais liberais.
BBC
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